quarta-feira, 15 de junho de 2011

UM PASTOR SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS - EUGENNE PETERSON (NOTAS DE LEITURA)

Ler Eugenne Peterson é sempre um prazer. Seus livros são na verdade uma boa conversa com pastores que buscam ir alem da mediocridade marcante do nossos dias. Alguns ministros de hoje agem como vendedores que buscam novas técnicas para repassar um produto, nada mais do que isso.  
Quando voce senta para ler Richard Baxter, Charles Spurgeon, Martins Lloyd-Jones e Eugene Peterson, logo se percebe a crise do ministério pastoral nos nossos dias. Uma nova técnica aqui, uma estratégia mirabolante acolá, uma conferencia apresentando a ultima descoberta do mundo pastoral bem ali. Tudo isso banaliza o chamado pastoral. 
Oração, Leitura da Palavra e Orientação espiritual são caminhos de integridade para um ministério segundo o coração de Deus. Para aquele que vive buscando técnicas isso pode parecer ultrapassado e  antigo. Lembro-me das palavras de Jeremias 6.16 - “Perguntai pelas veredas antigas.” Peterson me ajuda a fazer estas perguntas. 
Deixo voce com as notas de leitura -
  • Nenhuma das três actividades citadas é pública, o que significa que ninguém pode ter certeza de que estamos, realmente, ocupando-nos com elas. As pessoas ouvem-nos orar no culto, pregar e ensinar a Bíblia e percebem quando prestamos atenção ao que nos dizem, mas não têm como saber se estamos envolvidos com Deus enquanto fazemos tudo isso. Não é necessário passar muitos anos no ministério para perceber que podemos exercê-lo de forma satisfatória, pensando em Deus apenas ao realizar atos cerimoniais. Já que é possível negligenciar os atos de atenção ou comunhão com Deus sem que ninguém perceba e sendo necessária grande dedicação para executá-los, é fácil, e comum, dar-lhes pouca importância.
  • Não conheço outra profissão em que seja tão fácil fingir como a nossa. Existem comportamentos que podemos adotar para sermos considerados, sem nenhum questionamento, conhecedores de mistérios: ter um porte reverente, cultivar uma voz empostada, introduzir em nossas conversas e palestras palavras eruditas em quantidade suficiente apenas para convencer os outros de que nosso treino mental está um pouco acima do que o da congregação. A maioria das pessoas, ou pelo menos aquelas com quem convivemos mais estreitamente, sabe que, na realidade, estamos cercados por enormes mistérios, como a vida e a morte, o bem e o mal, o sofrimento e a alegria, graça, misericórdia, perdão. Podemos insinuar familiaridade com esses assuntos profundos com gestos, suspiros cheios de simpatia ou toques repletos de compaixão. Mesmo quando, no meio de ataques de humildade ou honestidade, declaramos que não somos santos, ninguém acredita, porque todos precisam de ter certeza de que alguém tem contato com os assuntos mais elevados.
  • É possível fingir ser pastor sem sê-lo.
  • Se nos satisfizermos em simplesmente agradar à congregação, ser pastor será um dos trabalhos mais fáceis que existem na face da Terra. A carga horária é boa, o salário adequado, o status bem elevado. Então, por que não achamos fácil e nem estamos satisfeitos?
  • E, para os pastores, a integridade tem a ver com Deus (e não com aliviar a ansiedade, confortar e nem com dirigir uma empresa religiosa).
  • Existe dificuldade em se definir bem a linha divisória. Como não perder a vocação pastoral vivendo em uma comunidade que me contrata para realizar tarefas religiosas? Como continuar tendo integridade profissional no meio de um povo que tem grande experiência em comparar produtos mas que não se cansa de exigir que tenhamos integridade pastoral?
  • Mas a palavra devoção faz parte do vocabulário dos atletas e significa treinar para alcançar a excelência.
  • Sem uma "devoção" adequada, nem mesmo os melhores talentos e as melhores intenções poderão evitar o enfraquecimento, que levará a uma vida, em sua maior parte, de representação.
  • A implicação de tudo isso no trabalho pastoral é evidente: ele começa com a oração. Tudo aquilo que tem nossa participação - o que for criativo, poderoso, bíblico - tem origem na oração. Os pastores que imitam a pregação e as ações morais dos profetas sem, ao mesmo tempo, imitar sua vida profunda de oração e louvor, que é tão evidente nos Salmos, são um estorvo para a fé, um empecilho para o crescimento da Igreja.
  • Enquanto que os gregos tinham uma história para cada ocasião, os hebreus tinham uma oração. Para os pastores, as histórias gregas são úteis, mas as orações hebréias são essenciais. 
  • Vá devagar com a oração, porque, na maior parte das vezes, ela não traz aquilo a que aspiramos, mas o que Deus quer, que pode ser bem diferente do que entendemos como sendo nosso melhor interesse.
  • Os pastores são continuamente submetidos a uma indignidade, quando um grupo se reúne, para uma reunião ou refeição, e alguém lhes pede: "Pastor, o senhor podia fazer uma oraçãozinha para começar?" Seria maravilhoso responder, gritando, como imaginou William McNamara: "Não posso! Não existem oraçõezinhas! A oração penetra na cova dos leões, leva-nos até à presença da santidade, lugar de onde não sabemos se voltaremos vivos ou equilibrados, já que 'horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo' 
  • Os pastores não são os culpados por esse estado de coisas, mas se tornam a partir do momento em que o perpetuam, com sua aquiescência. Ao percebermos a extensão de nossa responsabilidade, devemos fazer algo frente à situação.
  • A palavra de Deus é o meio criativo através do qual todas as coisas vêm à existência.
  • Respostas decoradas não são adequadas à estonteante criatividade da interpelação que Deus nos faz através de sua palavra.
  • O segundo tipo de demandas inclui responder, em oração reverente, à chamada que Deus faz para que Lhe demos atenção, para ouvi-Lo, levá-Lo a sério dentro das circunstâncias reais do que vivo no dia de hoje, no lugar onde moro.
  • A substituição, quase geral, dos termos entre os pastores é mais um sinal de uma identidade vocacional abandonada (Uma troca de nome que se relaciona com esta é a de "gabinete pastoral" por "escritório",
  • Sabá: Tempo e espaço em ordem, para nos distanciarmos da agitação de nossas atividades, a fim de podermos ver o que Deus fez e está fazendo. Se, regularmente, não deixarmos nosso trabalho por um dia por semana, estaremo-nos levando a sério demais. O suor moral que brota de nossas sobrancelhas nos cega para a ação fundamental de Deus dentro de nós e à nossa volta.
  • A maioria de nós é agostiniana35 nos púlpitos. Pregamos a soberania de nosso Senhor, a primazia da graça, a glória de Deus: "Porque pela graça sois salvos... não de obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2:8,9). Mas, no minuto em que deixamos o púlpito, passamos a ser seguidores de Pelágio.36 Em reuniões, sessões de planejamento, tentativas obsessivas de atender às expectativas das pessoas, ansiedade de agradar e pressa de cobrir todas as bases, praticamos uma teologia que coloca nossa boa vontade como fundamento da vida e estimula o esforço moral como sendo o elemento básico para se agradar a Deus.
  • "O homem só se diverte quando é homem na completa acepção da palavra, e só no momento em que se diverte ele é completamente homem."
  • Os pastores precisam de criar nesta terra parques de diversão e de oração.
  • Ler a Bíblia não é o mesmo que ouvir Deus. Um não está necessariamente ligado ao outro, mas, muitas vezes, presume-se que sejam a mesma coisa. Os pastores, que passam mais tempo lendo as Escrituras do que a maioria dos cristãos (não em face da devoção, mas do seu trabalho), adotam essa opinião sem justificativa com freqüência alarmante.
  • Mas é exatamente esse ouvir cheio de alegria e paixão que diminui, chegando, mesmo, a desaparecer, no decorrer do exercício do pastorado. 
  • Não há área em nossa vida que não seja afetada, de uma forma ou outra, pelo consumismo.
  • Segue-se disso ser um erro fatal a prática acadêmica amplamente disseminada de tratar as Escrituras basicamente, se não exclusivamente, como fenômeno impresso, livro didático escrito para nos fornecer informações sobre Deus, doutrina, moral ou história religiosa. Lamentavelmente, os pastores adotaram essa prática. A Bíblia, definitivamente, não é um livro didático. E a Igreja em adoração nunca levou muito a sério essa noção. Percebe-se na Bíblia algo muito maior e mais ativo: uma matriz verbal, na qual o comportamento de fé de uma comunidade de adoração é moldado e renovado.
  • A tarefa da Igreja (por cuja execução os pastores têm grande responsabilidade) é evitar esse mal-entendido: evitar que a revelação, que sempre envolve histórias e reações pessoais, seja tratada como informação, que comumente envolve fatos impessoais e idéias abstratas.
  • A religião como distração é sempre mais atraente, mas também é menos verdadeira.
  • A maioria dos enganos vem, não de definições erradas, mas de contextos esquecidos.
  • "As histórias das Escrituras, ao contrário das de Homero, não buscam nosso favor, não nos lisonjeiam, visando a nos agradar e encantar: elas almejam submeter-nos e, se nos recusarmos à submissão, seremos rebeldes.
  • Não importa que o povo desta era não goste dessas características em seus textos religiosos: os pastores não estão a serviço desta era.
  • Por toda parte, pastores têm transformados seus gabinetes em "destila-rias" ilegais, onde extraem idéias e moralidade da narrativa fértil das Escrituras. 
  • A oração é parte integrante do estudo das Escrituras, porque antecipa a caminhada do leitor, carregado pelo Espírito, da página escrita ao próprio Deus.
  • A cultura nos condiciona a nos aproximarmos das pessoas e situações como jornalistas: ver o grande, explorar as crises, editar e resumir o comum, entrevistar o fascinante. As Escrituras, porém, e as melhores tradições pastorais nos treinam em um sentido diferente: notar o pequeno, persistir no comum, apreciar o obscuro.
  • A orientação espiritual é a tarefa de ajudar uma pessoa a levar a sério o que é deixado de lado pela mente tomada pela publicidade e farta de crises. É, ainda, receber o "material de vida misturado e aleatório" (de novo, palavras de Auerbach) e usá-lo como material para a mais alta santidade.
  • cada alma é única: não se pode simplesmente aplicar alguma sabedoria, sem discernir as particularidades desta vida, desta situação.
  • Acredito que muitos pastores se dedicariam muito mais à orientação espiritual, com mais consistência e habilidade, se percebessem quão mais importante ela é do que nossos professores falaram, e a importância que teve no ministério pastoral nos séculos anteriores.
  • . Ser orientador espiritual significa estar pronto a abrir espaço e conseguir tempo para olhar para esses elementos de nossa vida, que não são, de forma alguma, periféricos, mas, sim, centrais: sinais inequívocos de transcendência. Mencionando, atendendo e conversando, ensinamos nossos amigos a "lerem o Espírito" e não se deterem aos jornais.
  • Ser um orientador espiritual significa reparar no que é familiar, dar nome ao que é individual. É necessário ser instruído nas grandes verdades de pecado, graça, salvação, expiação e julgamento, mas isso não é suficiente.
  • Na orientação espiritual nos dedicamos mais a descobrir tentações particulares e graças reais do que a aplicar verdades.
  • Uma pessoa necessitada e em crescimento está vulnerável, e aceita, prontamente, os conselhos oferecidos com sinceridade. Mas a ajuda que poderia ser adequada a outra pessoa, ou até mesmo para esta pessoa, só que em outro momento, pode estar errada para essa pessoa, nesse momento. Por isso, a necessidade da congregação, de receber orientação espiritual pessoalmente, não pode ser deixada à responsabilidade de livros, fitas cassete ou vídeos. Esta é a verdadeira função dos pastores.
  • Se estamos, porém, o tempo todo exercendo autoridade, quando teremos a oportunidade de praticar a obediência?
  • Os maiores erros na vida espiritual não são cometidos por noviços, mas por conhecedores. 
  • Reduzindo uma pessoa a material para sermões, seremos agentes da alienação.
  • Assim, nossa tarefa principal é sermos peregrinos. Nosso melhor preparo para a orientação espiritual é a vida honesta. A oração e a capacidade crescente de adoração e alegria dão autenticidade à existência pastoral.
  • Precisam de um amigo que dará atenção ao que elas são, não querem um gerenciador de projetos que prescreva mais tarefas.
  • Baxter diz que um pastor não pode "agir de qualquer modo quanto" ao seu trabalho.
  • Faz vários anos que venho prestando atenção especial aos pastores, no momento em que falam das pessoas que batizam e a quem entregam a palavra, o corpo e o sangue de Cristo. Que eles realmente pensam sobre de suas "ovelhas"? É muito raro ouvir espanto ou maravilha quando falam, muito difícil detectar qualquer aplauso para as glórias que ninguém nota, para a graça que ninguém percebeu.
  • Todo encontro com outra pessoa é um privilégio. Nas conversas pastorais tenho oportunidades que muitos nunca têm com tanta facilidade ou tão freqüentemente: oportunidade de explorar a glória oculta, a bênção ignorada, a graça esquecida. É melhor não perder isso.
  • É difícil manter a consciência de minha ignorância. Os pastores fazem tantas provas, ouvem tantas palestras, lêem muitos livros, e têm tanta experiência com a matéria-prima da verdade - morte, luto, sofrimento, celebração, culpa, amor - que assumem com facilidade a postura de onisciência. Mas o que não sabemos é muito maior do que o que conhecemos.
  • Li e estudei as Escrituras durante anos e anseio compartilhar o que aprendi. Fui ensinado e treinado em Teologia durante anos e desejo passar meu conhecimento adiante. Sendo estimulado por uma pergunta ou recebendo o sinal de uma pesquisa, forneço respostas e comentários. Quero passar o conteúdo de minha mente para o vazio da outra mente. Mas, e se não forem as cabeças as envolvidas aqui, mas algo mais parecido com corações, vidas"? Neste caso, o terreno desconhecido é muito maior do que o conhecido. Von Hugel disse: 'É característica de uma mente ignorante ser mais dogmática do que o assunto requer." O melhor é ficar quieto um pouco, ouvir e olhar. Há muito mais aqui do que o olho pode ver, muito que não foi dito. Que é?
  • É mais fácil falar sobre idéias, pessoas ou projetos. Para a situação imediata, habitualmente traz mais satisfação. Mas se a pessoa realmente deseja relacionar-se com Deus, esses assuntos só atrapalharão a busca ou atrasarão o encontro. Já me coloquei, erroneamente, como o principal elemento da conversação, quando o que o outro procurava era conversar com Deus. Se eu dominar o diálogo - ignorando tanto a palavra de Deus, sua presença e misericórdia, quanto confinando-o a uma mera posição cerimonial - estarei atrapalhando o caminho.
  • Mas deve haver uma predisposição e uma prontidão para orar. A orientação espiritual, então, é conduzida com a certeza de que acontece na presença ativa de Deus, e de que nossa conversa, portanto, é condicionada pelo que Ele fala e ouve, pela Sua presença.
  • Clemente de Alexandria chamou a oração de "manter companheirismo com Deus". "Manter companheirismo" envolve gestos e silêncio, meditação relaxada e fala concentrada.
  • Com muito mais freqüência do que acreditamos, a razão secreta, muitas vezes inconsciente, que as pessoas têm ao procurar conversar com o pastor é o desejo de manter um companheirismo com Deus. Se tiverem a desventura de ir a um pastor que não é ativo no companheirismo, serão decepcionadas, como George Fox, cujos pastores não deram qualquer orientação para a oração e nem pareceram ser pessoas que oravam.

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