- Na esfera da religião, assim como em outras esferas, as coisas sobre as quais os homens concordam podem ser aquelas que menos valem sustentar; as coisas realmente importantes são Haquelas sobre as quais os homens lutarão.
- Muito mais importante do que todas as questões relacionadas os métodos de pregação é a questão básica sobre o que deve ser pregado.
- A melhoria material tem andado de mãos dadas com o declínio espiritual.
- Nunca ocorreu a Paulo que um evangelho podia ser verdadeiro para uma pessoa e não para outra; a ferrugem do pragmatismo nunca havia atacado sua alma. Paulo estava seguro da verdade objetiva da mensagem do evangelho e a devoção a esta verdade foi a grande paixão de sua vida. O Cristianismo para Paulo não era apenas vida, mas também doutrina e, logicamente, doutrina vinha em primeiro lugar.
- E, assim, gememos novamente sob a velha escravidão da lei. Paulo via claramente que esta tentativa de completar a obra de Cristo através de nosso próprio mérito era a própria essência da incredulidade; Cristo fará tudo ou nada, e a única esperança é nos atirarmos sem reservas na sua misericórdia e confiarmos nele para tudo.
- O liberal moderno deseja produzir sobre as mentes dos cristãos simples (e sobre sua própria mente) a impressão de algum tipo de continuidade entre o liberalismo moderno e o pen- samento e vida do grande Apóstolo. Mas esta impressão é totalmente ilusória. Paulo não estava interessado meramente nos princípios éticos de Jesus; ele não estava interessado simplesmente nos princípios gerais da religião ou da ética. Pelo contrário, ele estava interessado na obra redentora de Cristo e no seu efeito sobre nós. Seu principal interesse era a doutrina cristã, e não apenas nos pressupostos da doutrina cristã, mas no seu cerne. Se o Cristianismo deve se tornar independente de doutrina, então o “Paulinismo” deve ser removido da raiz e das rami- ficações do Cristianismo.
- “Cristo morreu”— isto é história; “Cristo morreu pelos nossos pecados”— isto é doutrina. Sem estes dois elementos, conjugados em união absolutamente indissolúvel, não há Cristianismo.
- Estranho, de fato, é a complacência com que o homem moderno pode dizer que a Regra de Ouro e os princípios éticos elevados de Jesus são tudo o que precisam. Na realidade, se os requerimentos para a entrada no Reino de Deus são os que Jesus declara, estamos todos destruídos; não alcançamos nem mesmo a justiça externa dos escribas e fariseus, então como alcança- remos a justiça de coração que Jesus demanda? O Sermão do Monte, corretamente interpretado então, faz com que o homem recorra aos meios divinos de salvação pelos quais a entrada no Reino possa ser obtida. Até mesmo Moisés é muito elevado para nós; mas antes desta lei maior de Jesus, quem poderia por-se de pé sem ser condenado? O Sermão do Monte, assim como todo o resto do Novo Testamento, realmente conduz o homem diretamente aos pés da Cruz.
- Nunca teremos contato vital com Jesus se nos preocuparmos com a Sua pessoa e negligenciarmos a mensagem; porque é esta mensagem que faz com que Ele seja nosso.
- Este conhecimento é dado na história da Cruz. Por nós, Jesus não apenas colocou Seus dedos nos nossos ouvidos e disse, “Sejam abertos”; por nós, Ele não apenas disse “Levante-se e ande”. Por nós, Ele fez algo ainda maior — por nós, Ele morreu. Nossa culpa terrível, a condenação da lei de Deus, foi anulada por um ato de graça. Esta é a mensagem que traz Jesus para perto de nós e faz dele não apenas o Salvador dos homens da Galiléia a muito tempo atrás, mas o meu e o seu Salvador.
- O que é estranho sobre o Cristianismo é que ele adotou um método inteiramente diferente. Ele não transformou as vidas dos homens apelando para a vontade humana, mas contando uma história; não através da exortação, mas pela narração de um even- to. Não é de se surpreender que este método parecesse estranho. Algo poderia ser mais impraticável que a tentativa de influenciar a conduta pelo ensaio de eventos a respeito da morte de um mestre religioso? Isto é o que Paulo chamava de “tolice da mensagem.” Ela parecia tola ao mundo antigo, e parece tola aos pregadores liberais de hoje. Mas o estranho é que ela funciona. Os seus efeitos aparecem mesmo neste mundo. Onde a mais eloqüente exortação falha, a simples história de um evento obtém sucesso; as vidas de homens são transformadas através de um fragmento de notícias.
- Se a nossa doutrina for verdadeira e nossas vidas erradas, quão terrível é o nosso pecado!
- A indiferença com relação à doutrina não cria heróis da fé.
- O Cristianismo é baseado, então, em um relato de algo que acon- teceu, e o obreiro cristão é, antes de mais nada, uma testemunha. Mas, se é assim, é particularmente importante que o obreiro cristão fale a verdade. Quando um homem senta-se no banco de testemunhas, faz pouca diferença qual é o corte do seu casaco ou se suas sentenças são bem desenvolvidas. O que é importante é que ele diga a verdade, toda a verdade, e nada além da verdade. Se devemos ser verdadeiramente cristãos, então, faz uma grande diferença quais são os nossos ensinamen- tos e não é de forma alguma um despropósito expor os ensinamentos do Cristianismo em contraste com os ensinamentos do principal rival moderno do mesmo.
- Certamente faz a maior diferença possível o que pensamos sobre Deus; o conhecimento de Deus é a própria base da religião.
- Com certeza, o ateísmo ou o “cristianismo agnóstico”, que algumas vezes aparece com o nome de religião “prática,” não é cristianismo de forma alguma. Na própria raiz do cristianismo está a crença na existência real de um Deus pessoal.
- Deus, conseqüentemente, diz-se, não é uma pessoa distinta de nós mesmos; pelo contrário, nossa vida é uma parte da Sua. Assim, a história do Evangelho da Encarnação, de acordo com o liberalismo moderno, às vezes é tida como um símbolo da verdade geral de que o homem, no seu auge, é um com Deus.
- O paganismo é a visão de vida cuja meta maior da existência humana é o desenvolvimento jubiloso, harmonioso e sadio das faculdades humanas existentes. O ideal cristão é muito diferente. O paganismo é otimista com relação à natureza humana autônoma enquanto que o Cristianismo é a religião do coração ferido.
- Ao dizermos que o Cristianismo é a religião do coração ferido, não queremos dizer que o Cristianismo termina com o coração ferido; não queremos dizer que a atitude cristã característica é uma batida contínua no peito ou um choro contínuo de “Ai de mim.” Nada poderia ser mais distante do fato. Pelo contrário, o Cristianismo significa que o pecado é encarado de uma vez por todas e, então, é arremessado para sempre, pela graça de Deus, nas profundezas do mar. O problema com o paganismo da Grécia antiga, assim como com o paganismo dos tem- pos modernos, não estava na superestrutura que era gloriosa, mas na base que era podre. Sempre havia algo a ser escondido; o entusiasmo do arquiteto era mantido apenas pela ignorância do fato perturbador do pecado.
- ́ através dos “pequenos pecados” que Satanás ganha entrada em nossas vidas.
- Mas se a consciência do pecado deve ser produzida, a lei de Deus deve ser proclamada na vida do povo cristão assim como pela palavra. É completamente inútil para o pregador exalar fogo e enxofre do púlpito se, ao mesmo tempo, os ocupantes dos bancos prosseguem conside- rando o pecado de forma superficial e se contentando com os padrões morais do mundo. Os recrutas da igreja devem fazer a sua parte em proclamar a lei de Deus através de suas vidas de forma que os segredos do coração dos homens seja revelado.
- Todas as idéias do cristianismo podem ser descobertas em alguma outra religião, porém não pode haver cristianismo em outra religião. Porque o cristianismo não depende de um complexo de idéias, mas da narração de um evento.
- O homem cristão, por outro lado, encontra na Bíblia a própria Palavra de Deus. Não se diga que a dependência de um livro é algo artificial ou morto. A Reforma do século XVI foi baseada na autoridade da Bíblia e, mesmo assim, colocou o mundo em chamas. A dependência na palavra de um homem seria servil, mas a dependência na Palavra de Deus é vida. O mundo seria escuro e sombrio se tivéssemos sido deixados por conta de nossos próprios esquemas e não tivéssemos a Palavra abençoada de Deus. A Bíblia, para o cristão, não é uma lei pesada, mas a própria Carta Magna da liberdade cristã.
- O pregador liberal moderno reverencia Jesus; ele sempre tem o nome de Jesus em seus lábios; ele fala de Jesus como a suprema revelação de Deus; ele entra, ou tenta entrar, na vida religiosa de Jesus. Mas ele não tem um relacionamento religioso com Jesus. Jesus, para ele, é um exemplo de fé, não o objeto da fé. O liberal moderno tenta ter fé em Deus como a fé que ele supõe que Jesus tinha em Deus; mas ele não tem fé em Jesus.
- Mas é igualmente importante observar que a religião de Jesus não foi o cristianismo. O cristianismo é um modo de se livrar do pecado e Jesus não tinha pecado. Sua religião era uma religião do Paraíso, não uma religião da humanidade pecaminosa. Foi uma religião que nós, talvez de alguma forma, alcançaremos no céu quando o processo de nossa purificação estiver completo (apesar de que, mesmo lá, a memória da redenção nunca irá nos deixar); mas certamente não é uma religião com a qual podemos começar. A religião de Jesus foi uma religião de filiação tranqüila; o cristianismo é uma religião de alcance da filiação através da obra redentora de Cristo.
- Há uma diferença profunda, então, na atitude assumida pelo libe- ralismo moderno e pelo cristianismo, com relação a Jesus, o Senhor. O liberalismo o considera como um exemplo e guia; o cristianismo, como Salvador; o liberalismo faz Dele um exemplo de fé; o Cristianismo, o objeto da fé.
- A convicção do pecado é tão fundamental na fé cristã que não se pode chegar a ela simplesmente por um processo de raciocínio; não se pode simplesmente dizer: Todos os homens (como já me disseram) são pecadores; eu sou um homem; então, suponho que devo ser um pecador também. Isto é tudo o que a convicção do pecado atinge, algumas vezes. Mas a verdadeira convicção é muito mais imediata do que isto. Ela depende, de fato, da informação que vem de fora; ela depende da revelação da lei de Deus; depende da veraci- dade terrível apresentada na Bíblia como a pecaminosidade universal da humanidade. Mas ela adiciona à revelação que vem de fora, uma convicção de toda a mente e coração, um entendimento profundo da própria condição perdida, uma iluminação da consciência amor- tecida que causa uma revolução Copérnica na atitude de uma pessoa com relação ao mundo e a Deus. Quando um homem passa por esta experiência, ele se surpreende com a sua cegueira anterior. E, especial- mente, ele se surpreende com a sua atitude anterior com relação aos milagres do Novo Testamento e com a Pessoa sobrenatural lá revelada.
- Rejeite os milagres e você terá em Jesus a flor mais honrada da humanidade que deixou uma impressão tal em seus seguidores que depois da Sua morte, eles não podiam crer que Ele havia perecido, mas experimentaram alucinações nas quais pensaram vê-lo ressuscitado de entre os mortos; aceite os milagre e você terá um Salvador que veio voluntariamente a este mundo para a nossa salvação, sofreu na Cruz pelos nossos pecados, ressuscitou de entre os mortos pelo poder de Deus, e vive eternamente intercedendo por nós. A dife- rença entre as duas visões é a diferença entre duas religiões totalmente diversas.
- O Jesus do Novo Testamento tem pelo menos uma vantagem sobre o Jesus da reconstrução moderna — Ele é real. Ele não é uma figura manufatura- da adequada como um ponto de suporte para as máximas éticas, mas uma Pessoa genuína a quem o homem pode amar. Os homem o tem amado por todos os séculos cristãos. E o que é estranho, a despeito de todos os esforços para removê-lo das páginas da história, é que ainda há aqueles que O amam.
- Jesus é o nosso Salvador, não por virtude do que disse, nem mesmo do que foi, mas pelo que Ele fez. Ele não é nosso Salvador porque nos inspirou a viver o mesmo tipo de vida que viveu, mas porque tomou sobre Si mesmo a culpa terrível de nossos pecados e suportou-a em nosso lugar na Cruz.
- Não é a doutrina bíblica da expiação que é difícil de entender — o que é realmente incompreensível é o elaborado esforço das pessoas para livrar-se de doutrina bíblica no interesse do orgulho humano.1
- O que seria deixado seria simplesmente misticismo, e o misticismo é totalmente diferente do cristianismo. É a conexão da experiência presente do crente com a aparição histórica real de Jesus no mundo que previne nossa religião de ser misticismo e faz com que seja cristianismo.
- em a sua ex- clusividade, a mensagem cristã teria parecido perfeitamente inofensiva aos homens daqueles dias. Assim, o liberalismo moderno, ao colocar Jesus ao lado de outros benfeitores da humanidade, é perfeitamente inofensivo ao mundo moderno. Todos os homens falam bem dele. É inteiramente inofensivo. Mas é, também, totalmente fútil. A ofensa da Cruz é suprimida, mas também sua glória e poder.
- O homem verdadeiramente penitente anela destruir os efeitos do pecado, não apenas esquecê-lo.
- Mas se a fé cristã é baseada na verdade, então não é a fé que salva o cristão, mas o objeto da fé. E o objeto da fé é Cristo. A fé, então, de acordo com a visão cristã, significa simplesmente receber um dom. Ter fé em Cristo significa parar de tentar ganhar o favor de Deus pelo próprio caráter; o homem que crê em Cristo, simplesmente aceita o sacrifício que Cristo ofereceu no Calvário. O resultado desta fé é uma nova vida e todas as boas obras; mas a própria salvação é um dom absolutamente gratuito de Deus.
- Mas o cristão conhece também um relacionamento muito mais íntimo do que o relacionamento geral do homem com o homem e é para este relacionamento mais íntimo que ele reserva o termo “irmão”. A verdadeira irmandade, de acordo com o ensino cristão, é a irmandade dos remidos.
- a verdadeira transformação da sociedade ocorrerá pela influência daqueles que foram, eles mesmos, remidos.
- A Igreja é a resposta cristã mais elevada às necessidades sociais das pessoas.
- Nestes tempos de crise, Deus sempre salvou a Igreja. Mas Ele não a salvou através de pacifistas teológicos e sim através de contendores vigorosos a favor da verdade.
- Os leigos, assim como os ministros, deveriam retornar com nova seriedade, nestes dias difíceis, ao estudo da Palavra de Deus.
- Cansados dos conflitos do mundo, uma pessoa vai à Igreja buscar refresco para a alma. E o que ela encontra? Muitas vezes encontra apenas o tumulto do mundo. O pregador apresenta-se, não dentre um lugar secreto de meditação e poder, não com a autoridade da Palavra de Deus permeando sua mensagem, não com a sabedoria humana empurrada para o fundo pela glória da Cruz, mas com opiniões humanas sobre os problemas sociais do momento ou soluções fáceis para o vasto problema do pecado.
- Não há refúgio do conflito? Não há lugar de refresco onde uma pessoa pode se preparar para a batalha da vida? Não há lugar onde dois ou três possam reunir-se no nome de Jesus para esquecerem-se, por um momento, de todas as coisas que dividem nação de nação, raça de raça, para esquecerem o orgulho humano, as paixões da guerra, os problemas confusos do conflito industrial, e para unirem-se em grati- dão transbordante aos pés da Cruz? Se este lugar existe, então ele é a casa de Deus e o portão do céu. E do limiar desta casa sai um rio que renovará o mundo cansado.