Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. 2 Cor 3.2
Estou lendo no momento “Memórias de um Pastor” de Eugenne Peterson, um dos meus escritores predilectos. Na verdade, tenho conversado com Peterson, ouvindo atentamente suas histórias que de alguma forma tem a ver com as minhas visto que também caminho nesta vocação pastoral e portanto tenho as minhas próprias “memórias” como pastor.
Foi muito edificante ouvir Peterson falar sobre o Livro de Atos dos Apóstolos, o livro de uma história que ainda esta sendo contada. Realmente olhamos para Atos apenas como registro da igreja em seus primeiros dias, quando na verdade deveríamos lê-lo como uma história que ainda esta sendo contada, por cada um de nós. Numa visão bastante reducionista, conto apenas uma história (A trama de Jesus) e deixo passar desapercebido outras histórias que se desenrolam diante de mim. Cada pessoa que passa pelo meu pastoreio é uma história singular que precisa ser atentamente lida. No cap. 16 Eugenne dedica-se a contar algumas destas histórias, o que para mim foi algo bastante fascinante e de certa forma perturbador, uma vez que o me inquieta neste momento é exactamente a seguinte questão - Como pastor estou atento as histórias? Tenho sido apenas um contador de historias ou tenho me dedicado na leitura de muitas historias?
Algumas destas historias são fascinantes outras são lastimáveis. Histórias de gente que continua na caminhada connosco atrai cada vez mais a nossa atenção, enquanto que a história daqueles que se foram (muitos levados pela ingratidão) são logo deletados da memória. Mas espere um minuto. O evangelho registrou a escolha de Judas, sua participação na ceia, sua traição e sua morte. Mesmo sendo um caso digno de esquecimento a triste e desgraçada história de Judas ficou registrada para a posteridade. Entendo a partir dai que nenhuma história é sem importancia. A historia dos que estão e dos que se foram tem o seu valor. Qual o valor da história de um traidor, de um ingrato? Confesso que preciso ler mais para poder dar uma resposta. O que sei é que todos os dias tenho muitas histórias para ler. Paulo declarou certa vez que somos “cartas vivas” e peco quando deixo de ler estas cartas.
Cada história tem a sua história. Histórias de frustração, de conquistas, de perdas, de aceitação, de rejeição, de abandono, de acolhimento, de traumas, de cura, de restauração, de desistência, enfim cada história é singular. A beleza do evangelho está aí. A história do Deus que decidiu entrar na história por causa das inúmeras histórias. O evangelho fala do Deus que se importou com a minha historia e decidiu mudar a minha história. Se Deus se importou com a história de cada um, porque então trato com tanta indiferença as histórias que se desenrolam diante dos meus olhos? Como Pastor entendo que tenho a mais linda história para contar e também tenho muitas histórias para ler. Hoje peço ao Senhor que abra os meus olhos, os olhos do meu coração para que afinal eu possa “ler”.
Beijo no coração
Isaias