segunda-feira, 18 de julho de 2011

ANIMO de Eugene Peterson (NOTAS DE LEITURA)

O titulo do livro nos leva a crer que se trata de mais um daqueles livros medíocres de auto-ajuda. Graças a Deus que não é.
“Animo” é um mergulho na vida do profeta Jeremias e a grande lição é - Podemos viver sim acima de toda superficialidade e mediocridade. Como? Repetindo chavões? Exercendo o poder do “pensamento positivo”? Nada disso. 
Para minha vida ter sentido preciso entender o proposito de Deus para a minha vida. Uma vez compreendido este proposito preciso vive-lo com toda integridade.
É disso que trata “animo”. Jeremias era um homem integro, pratico e comprometido. Suas prioridades eram definidas e redefinidas em oracao. Seu compromisso primeiro não era com o seu bem estar e sim com o seu chamado, sua vocação - Ser profeta, boca de Deus para o povo. 
Vale a pena ler e reler. Interessante também usa-lo em grupos de estudos, afinal a vida deste profeta que é considerado por muitos o mais humano, é extremamente edificante e como diz Peterson - “extraordinariamente bem vivida”. 
Deixo vocês com as notas de leitura
-Um carácter íntegro não ganha o "Oscar" nem reconhecimento público algum. No fim de cada ano, ninguém se dá ao trabalho de elaborar uma lista com as dez pessoas que ostentaram a melhor vida.
-Cada vida é uma tela em branco sobre a qual Deus pinta todas as linhas e matizes de cores, sombras e luzes, diferentes texturas e proporções, todas nunca antes usadas por ele.
-A grande dificuldade do ofício pastoral consiste em estimular as pessoas a crescer em excelência e a deixar o egocentrismo, ou seja, consiste em ensiná-las a, ao mesmo tempo, encontrar o eu e perdê-lo. Essa idéia é paradoxal, porém não impossível; e Jeremias se destaca entre aqueles que conseguiram atingir esse ideal. Ele apresentava um ego totalmente desenvolvido — logo, capaz de chamar a atenção — porém, ao mesmo tempo, era uma pessoa inteiramente desinteressada em si mesma e, portanto, muito madura. Assim, esse homem, por mais de vinte e cinco anos, tem sido um exemplo e um mentor para mim em conversas, palestras e sermões.
-O grande perigo é, na verdade, "morrermos antes de realmente morrer, antes que a morte nos sobrevenha como um fato natural. O verdadeiro horror reside exatamente nessa morte prematura, após a qual continuamos a viver por muitos anos"
-Agora, porém, ao primeiro sinal de dificuldade, você está disposto a desistir. Se você se sente fatigado por essa multidão de patéticas mediocridades, o que fará quando a verdadeira corrida começar, contra os velozes e determinados cavalos da excelência? O que você realmente deseja, Jeremias? Quer arrastar- se, acompanhando a multidão ou almeja correr com os cavalos?
-O que há por trás de um nome? A história da raça humana é constituída de nomes. Nossos amigos materialistas e interessados em números não conseguem compreender isso porque se movem em um mundo de objetos que podem ser contados e numerados. Eles reduzem os grandes nomes do passado a pó e cinzas. Chamam isso de história científica. No entanto, todo o significado da história está no fato indiscutível de que existiram pessoas no passado que precisamos conhecer. Eugen Rosenstock-Huessy
-Algumas pessoas, à medida que crescem, tornam-se menores.
-Toda vez que nos movemos do pessoal para o impessoal, do imediato para o remoto, do concreto para o abstrato, sofremos redução, tornamo-nos inferiores. É necessário resistir se quisermos manter nossa humanidade.
-Nenhuma criança é somente uma criança. Cada uma delas é uma criatura por meio da qual Deus pretende realizar uma obra gloriosa e grandiosa. 
  • A deformação à qual os sacerdotes, profetas e sábios estão sujeitos é considerar Deus uma mercadoria, utilizá-lo para legitimar o egoísmo.
  • Se quisermos viver de modo correto devemos ter consciência de que estamos dentro de um processo histórico em curso que não será concluído por nós, mas por Deus.
-E o que Deus está realizando? Ele está salvando, está resgatando, abençoando, provendo, julgando, curando, esclarecendo. Há uma verdadeira batalha espiritual sendo travada. Uma intensa batalha moral. Há maldade, crueldade, infelicidade e doenças. Há superstição e ignorância; brutalidade e dor. Deus se levanta contínua e energicamente contra tudo isso. Ele é a favor da vida e contra a morte. Coloca-se 30 lado do amor e opõe-se ao ódio. Favorece a esperança e combate o desespero. Deus é a favor do céu e contra o inferno. Não existe zona neutra no Universo. Cada centímetro quadrado é área de combate.
-Ninguém nasce neste mundo para ser apenas um mero espectador. Não há meio-termo. Ou aceitamos a vida para a qual fomos consagrados ou, traiçoeiramente, desertamos. Não podemos dizer: "Espere um pouco! Ainda não me sinto pronto. Aguarde até que eu resolva algumas pendências".
-Assim, um dos mais extraordinários aspectos das boas-novas é que Deus usa pessoas de todos os tipos, até as más, para cumprir seus bons propósitos. O grande paradoxo do julgamento divino é que o mal é utilizado como combustível no forno da salvação.
-Há muitas pessoas hoje em dia que amam o reino celestial de Jesus, porém poucas que carregam sua cruz; muitas ansiando por conforto, mas poucas que suportam sofrimentos. Longa é a fila das pessoas que compartilham de seu banquete, porém curta é a fila dos que compartilham de seu jejum. Todos desejam participar de seu júbilo, mas somente uns poucos estão dispostos a sofrer por sua causa. Há muitos que seguem a Jesus até o partir do pão, poucos o fazem até o momento de beber o cálice do sofrimento. Muitos que enaltecem seus milagres, poucos que o seguem na indignidade de sua cruz. Thomas a Kempis
-A vida das pessoas tem a mesma qualidade da adoração que praticam. 
-As pessoas permaneciam naquele lugar santo, recitando os chavões religiosos da época, pensando que tudo estava bem. Elas estavam no lugar certo, diziam as palavras corretas, mas elas próprias não estavam certas. 
-No entanto, ir à igreja para cantar hinos não nos torna mais santos, da mesma forma que ir a uma cocheira e relinchar não nos transforma em cavalos.
-O lado exterior é muito mais fácil de reformar do que o interior. Freqüentar assiduamente uma boa igreja e repetir palavras certas é imensamente mais fácil de fazer do que se esforçar para manter uma vida de justiça e amor entre as pessoas com as quais se trabalha e convive. Aparecer na igreja uma vez por semana, cantar com entusiasmo e repetir o amém é muito mais simples do que se dedicar a uma vida de contínua oração e meditação nas Escrituras, e desenvolver, assim, no íntimo, uma real preocupação com a miséria e a injustiça, com a fome e as guerras.
-Se isso sucedeu a Siló, poderia muito bem acontecer com Jerusalém, ou com qualquer outro lugar onde o povo se reunisse para cultuar a Deus. Não é suficiente estar no lugar certo e dizer as palavras corretas; nunca é suficiente até que caminhemos com Deus 24 horas por dia, por onde formos, de tal modo que tudo o que dissermos seja uma fiel expressão de amor e de fé.
-Deus não desiste de fazer bons vasos. Ele não joga fora o vaso danificado. Usando uma imagem diferente, George Herbert expressou a mesma idéia: "As tempestades são o triunfo de sua arte".
-A vida de fé tem uma dimensão fortemente física. Ser um cristão tem muito que ver com nossa carne — o tempo, o espaço e as coisas materiais. Isso implica ser colocado na roda do oleiro e transformado por inteiro em algo útil e belo. 
-Somos recipientes, "regiões do ser", nas palavras de Heiddeger, nas quais o amor, a salvação e a misericórdia são conservados e compartilhados.
-Algumas pessoas vão à igreja buscando uma forma de melhorar a vida, sentir-se bem consigo mesmas e ver as coisas com maior clareza e compreensão. Elas organizam um ritual e contratam um pregador para fazer o que idealizaram. Outras buscam a igreja porque querem que Deus as salve e governe suas vidas. Elas aceitam o fato de que há tentações, sacrifícios e sofrimentos envolvidos na decisão de abandonar uma vida na qual estão no controle para lançar-se em um modo de vida incerto, onde quem está no comando é Deus. O primeiro grupo vê a religião como uma receita rápida para o viver feliz e vitorioso; nada que interfira no sucesso ou interrompa a felicidade pode ser tolerado. O outro grupo enxerga a religião como um caminho no qual pessoas feridas e imperfeitas se completam numa relação com Deus. Tudo elas aceitam — zombaria, perseguição, renúncia, dor, abnegação — desde que contribua para aprofundar e fortalecer essa realidade. Um é o caminho da exaltação do que queremos; o outro é o caminho do comprometimento pessoal para ser aquilo que Deus deseja. Sempre e em todos os lugares esse conflito de expectativas estará em evidência. Está patente na experiência de Jeremias e eclode, de maneira dramática e barulhenta, na Jerusalém daqueles dias.
-A tarefa do profeta não é colocar panos quentes, mas fazer o que é certo. A função da religião não é fazer com que as pessoas se sintam bem. Amor? Sim, Deus nos ama. Porém, seu amor requer a fidelidade e o compromisso em retorno. Deus não deseja cuidar de animais de estimação, dando alimentação e afago. Antes, quer maturidade, pessoas livres que respondam a ele com sinceridade. Para que isso aconteça, deve existir honestidade e verdade. O eu deve ser retirado do pedestal. Deve haver corações puros e propósitos claros, confissão de pecados e compromisso de fé.
-Há pessoas de todos os tipos ao nosso redor, filhos e pais, jovens e adultos, pessoas que estão sendo cruelmente maltratadas e agredidas, afligidas e desprezadas. Qualquer pregação sobre paz que dá as costas para essa situação é uma tremenda farsa.
-Nós temos que aprender a viver de acordo com a verdade e não regidos por nossos sentimentos ou pela opinião da maioria; não pelo que a última pesquisa nos impõe como moralmente aceitável, não pelo que o governo ditatorial da indústria da propaganda nos diz sobre qual é o estilo de vida mais gratificante.
-As estatísticas são uma farsa. A popularidade e apenas uma cortina de fumaça. Tudo o que importa é Deus.
-As prioridades são restabelecidas por intermédio da oração. O fato de Deus estar em primeiro ou segundo lugar na vida das pessoas faz toda a diferença neste mundo. Quem está em primeiro lugar aqui? Deus ou o povo? Se Deus é quem tem a primazia, as queixas expressam apenas o que está envolvido em um trabalho difícil. O trabalho vale ou não a pena. A questão central é o que realmente desejo fazer com minha vida. Amar e bajular os outros; agradar os outros ou a Deus?
-A oração é o meio pelo qual as prioridades são definidas novamente.
-encontro diário com a ressonante voz de Deus. Esse encontro ocorre por intermédio da oração. As situações mudam, mas será que Deus muda? Nós oramos e escutamos. Deus repete sua palavra — a mesma palavra — e nos restaura, renovando-nos em nosso compromisso.
- A vida é dinâmica. Ela está em constante mudança e crescimento. Sofre ataques e é desafiada pelo mundo. De forma diferente, a Palavra de Deus e meu chamado jamais mudam, mas o relacionamento que daí decorre está sob ataque constante e deve ser renovado com freqüência. A determinação é fundamental, mas não é suficiente. Por intermédio da oração, Deus nos renova e restaura. O objetivo maior dela não é aumentar nosso conhecimento, ensinando-nos algo novo, mas Deus confirmar, mais uma vez, a fé para a qual fomos chamados.
-Ninguém se torna um ser humano de qualidade como Jeremias, simplesmente adotando uma postura de vencedor. Foram suas orações, em segredo porém constantes, que o levaram a desenvolver a maturidade e a sensibilidade espiritual que tanto almejamos. O que fazemos em segredo determina o grau de sanidade que demonstramos em público. A oração é o ato confidencial que desenvolve uma vida que é, ao mesmo tempo, autêntica e profundamente humana.
-Jeremias escreveu: [...] eu vo-la tenho anunciado; mas vós não escutastes [...] nem inclinastes os ouvidos para ouvir" (Jr 25:3-4). Aqui está a explicação para nossos padrões irregulares de vida, para nossa inconstância, para nossa infidelidade, para nossa estúpida incapacidade de distinguir entre o modismo e a verdadeira fé: nós não nos levantamos cedo e ouvimos o que Deus tem a nos dizer. Não reservamos diariamente um tempo longe da multidão, um período de silêncio e solidão, a fim de nos preparar para a jornada daquele dia. Garry Wills afirmou: "Um homem exemplar deve dar um formato à sua vida, fazer um planejamento que lhe permita refletir, estudar e criar'".
-As multidões mentem. Quanto mais pessoas, menos verdade
-Não podemos evitar as multidões, mas podemos evitar ser condicionados por elas.
-Afirmações como: "Eu não sou do tipo religioso" são inadmissíveis. Não existem tipos religiosos. Existem seres humanos, cada qual criado para desenvolver um relacionamento pessoal e eterno com seu Criador.
-A única oportunidade de desfrutar do viver pela fé é nas circunstâncias em que se encontram no presente: na casa em que vivem, na família em que estão, na atividade que lhes foi concedida, nas condições climáticas que prevalecem neste momento".
-Fenelon costumava dizer que existem dois tipos de pessoas: as que olham para a vida e se queixam do que não têm e e as que olham para a vida e se alegram com o que têm.69 Assim, a questão é esta: Viveremos com base no que possuímos ou no que não possuímos?
-Isso permanece ainda hoje. O exílio é o pior que revela o melhor. "É difícil acreditar que a tragédia pode ser boa", afirma William Faulkner.9 Quando o supérfluo é removido, descobrimos o essencial; e o essencial é Deus. Uma vida normal é repleta de distrações e coisas sem importância. Então surgem as catástrofes: mudanças, exílio, doenças, acidentes, desemprego, divórcio, morte. A realidade de nossa vida é modificada sem nenhuma consulta prévia ou permissão. Não estamos mais em casa.
Todos nós passamos por momentos, dias, meses ou anos de exílio. Que faremos com essas experiências? Desejaremos estar em outro lugar? Reclamaremos? Fugiremos para o mundo das fantasias? Vamos nos embriagar para esquecer a realidade? Ou construir uma casa, cultivar o solo, constituir uma família e buscar a paz do lugar em que habitamos e das pessoas com as quais convivemos? O exílio revela o que na verdade importa e nos torna pessoas livres para perseguir isso, isto é, buscar a Deus de todo o nosso coração.
-E esse viver não significa receber aplausos constantes, muito menos jogar no time vencedor. O andar pela fé requer prontidão para viver por algo que não se pode ver, controlar ou prever.
-No Egito, um lugar em que não queria estar, tendo ao lado pessoas que o tratavam de forma cruel, ele prosseguiu fiel e corajosamente sob o fardo de uma impiedosa rejeição. Uma vida edificante e extraordinariamente bem vivida.