quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

CULTURA E EVANGELHO - Justo L. Gonzalez (Notas de Leitura)



  • Em suma, a questão da fé e cultura é tema obrigatorio para qualquer discussão missiológica. 
  • Trata-se também de como ser cristãos evangélicos nas novas culturas para onde o crescente impulso missionário latino-americano esta levado nossa fé. 
  • A boa teologia é aquela que concebe e vive a universalidade de Deus nas particularidades da vida e a eternidade de Deus nas vicissitudes da história. 
  • Como todos sabem, a doutrina da criação não quer dizer que as coisas são exatamente como Deus quer que sejam. Pelo contrario entre a criação e nós está a queda. 
  • Um cultura é, em essência o modo pelo qual um grupo humano qualquer se relaciona entre si e com o ambiente circundante. 
  • cultura é empregado também para designar outras actividades mediante as quais o ser humano transforma ou governa seu ambiente para faze-lo produzir mais. 
  • Para te-la, basta ser humano, pois não se pode ser humano sem cultura. A cultura é a herança comum de todo grupo social. 
  • O ambiente afecta a cultura. Por outro lado, a cultura afecta o ambiente. 
  • No entanto, a cultura também possui uma dimensão que bem poderíamos chamar de interna. Neste sentido, ela é toda uma serie de signos e significados que permite a um grupo humano comunicar-se entre si. A cultura não é somente uma questão de relação com o meio ambiente, mas também de relações entre indivíduos, famílias e todos os membros do grupo. 
  • O idioma, também é reflexo e molde da cultura que expressa. 
  • O que as culturas fazem não é apenas fornecer os meios pelos quais um grupo responde a seu meio ambiente, mas também o modo como o interpreta. 
  • Em toda cultura dois elementos andam juntos: as técnicas para dirigir o mundo - o cultivo- e o modo como se entende esse mundo - o culto. 
  • O culto é o modo pelo qual as culturas respondem ao desafio e a promessa deste mysterium tremendum (mistério que faz tremer). 
  • Em síntese, como cultivo, a cultura se defronta com o meio ambiente, como culto, interpreta-o e lhe dá sentido. 
  • Isto quer dizer que em certo sentido, uma cultura é uma memória colectiva, tanto consciente quanto inconsciente. 
  • Por isso, repito, é importante recordar que a cultura é cultivo e culto. 
  • A o ler a historia do jardim, frequentemente imaginamos que o proposito de Deus era que tudo ficasse assim, como estava, e que, se o pecado não entrasse no meio, ainda andaríamos nus e ociosos no jardim. Mas não. Desde seus primórdios a humanidade recebe de Deus uma comissão: cultivar o jardim, ser senhora sobre o restante da criação. Este cultivo e este domínio devem ocorrer a imagem e semelhança de Deus, que cria coisas novas , portanto, a criatividade e o esforço humanos para entender e governar o restante da criação fazem parte da boa criação de Deus. 
  • O trabalho, o cultivo do jardim, a responsabilidade pelo restante da criação não são castigo, e sim parte da boa criação de Deus. O que de fato é resultado do castigo é que o trabalho se torne árduo e a terra produza cardos e espinhos. 
  • Mas há outra tradição crista muito antiga, muitas vezes esquecida no Ocidente, que ve o jardim e as historias de Génesis como o começo da criação. 
  • A cidade era para os antigos o próprio símbolo do engenho inventivo humano, tanto que nosso termo civilização não é outra coisa do que a cidadificação. Na biblia o processo que vai de Génesis a Apocalipse, do jardim a Cidade, da arvora da vida que se proíbe no jardim á mesma arvore da vida que se promete na cidade, faz parte dos propósitos de Deus para sua criação. Em suma, a cultura, os mil métodos pelos quais os seres humanos enfrentam as promessas e os desafios pelos quais os seres humanos enfrentam as promessas e os desafios de seu ambiente, vêem um campo e o tornam um jardim, e fazem dele a base para essa ordem social que é a civitas, a polis, a cultura, enfim, é dom, chamado e promessa de Deus. 
  • Estamos tão acostumados a falar da presença de Deus, de sua companhia e consolo, que raras vezes nos detemos em pensar sobre este tema da aparente ausência de Deus. Porem, de certo modo a própria ideia de mordomia requer ausência, ou ao menos distancia, espaço. 
  • Pratica a mordomia crista a pessoa que administra fielmente esta casa que Deus deixou ao nosso cuidado. 
  • Deus nem sempre intervém directa e imediatamente para deter o mal ou para promover o bem. Esta tarefa das criaturas que ele pos na terra para que a administrem em seu nome. De certo modo, Deus se ausenta e essa ausência de Deus é o espaço para a mordomia. 
  • Bem se poderia dizer, então que a origem da cultura esta justamente nesse espaço, nessa comissão que Deus dá ao ser humano para que, como seu representante, cultive o jardim e governe sobre o restante da criação. 
  • Como consequência do pecado, toda cultura, alem de ser um modo de reagir ao meio ambiente, é uma maneira de promover a exploração dos fracos e sua sujeição aos maios fortes. 
  • ...toda cultura carrega o selo do pecado. 
  • Toda cultura carrega o selo do pecado em suas próprias praticas internas, no modo como se organiza, na forma pela qual justifica a opressão e a injustiça e frequentemente na maneira como pretende se impor sobre outras culturas. 
  • ...o pecado corrompe não apenas as culturas, mas ate o próprio modo como estas medem e entendem a corrupção. 
  • Toda cultura é uma realidade de limites imprecisos, e o modo como esses limites são definidos tem muita relação com o pecado. 
  • Em suma, a cultura e as culturas ficaram manchadas pelo pecado, tanto em suas praticas internas quanto no modo como se concebem e se definem mutuamente. 
  • A cultura é boa. A cultura é bela. A cultura merece respeito. Mas a cultura, como toda realidade humana, carrega o selo do pecado pode muito bem ser seu instrumento. 
  • Se a confusão das línguas em Babel as impediu de continuar com seus sonhos idolátricos de grandeza, a confusão de culturas dos dias atuais, por mais que nos confunda e que não gostemos dela, serve ao menos para lembrar a toda cultura que ela é parcial e finita, que não é a única que habita o planeta, que seu modo de ver e fazer as coisas não é o único factível. Em outras palavras, a diversidade de culturas serve de freio ante as tendências imperialistas de toda cultura. 
  • Em Babel, os seres humanos tentam ascender ao céu, em Pentecostes Deus desce na pessoa do Espirito Santo. Babel foi o cumulo da soberba humana, querendo se apossar do céu, Pentecostes é o momento em que Deus se apossa dos seres humanos. 
  • O Espirito faz com que cada um escute em sua própria língua. Este é um milagre muito subversivo. É um milagre que subverte a autoridade dos primeiros discipulos, pois no fim das contas o que ele implica é que esses discipulos e seus agregados não terão controle da mensagem. Ao escuta-la em sua própria língua, um capadócio ou um egípcio se torna tão capaz de repeti-la quanto qualquer Galileu. 
  • Graças ao Dom do Espirito em Pentecostes, que fez com que cada qual escutasse o evangelho “em sua própria língua”, toda língua e toda cultura podem ser veiculo para o evangelho e nenhuma língua e nenhuma cultura devem ter domínio sobre ele. 
  • Do mesmo modo, ao viver minha vida crista em uma igreja e em uma cultura especificas, devo lembrar que entre meus irmãos e irmãs estão os milhões de fieis que a vivem em outras culturas e igrejas, da mesma forma que os outros milhões que a viveram em outros tempos e circunstancias. 
  • E o que isso tudo quer dizer, no final das contas, é que ainda que sempre nos tenha sido dito que a confusão de línguas é produto do orgulho humano, temos de ver também as coisas de outro angulo, no qual nossa diversidade, não somente de línguas, mas também de culturas e tradições, é dom do Espirito Santo para a edificação de todo o Corpo de Cristo . 
  • ...Sócrates se tornou um herói para os cristãos, pois morreu em perfeita calma, convencido de que nada nem ninguém poderia matar a sua alma. 
  • Mais uma vez, porem, a ponte apologética se desloca nas duas direcções. O que no principio foi um argumento para mostrar que não era tão errado crer na vida após a morte tornou-se o modo mais comum de entender a doutrina crista da vida futura. Assim, a doutrina da ressurreição ficou praticamente esquecida. 
  • Encontraram esse apoio na doutrina platónica do mundo das ideias um mundo superior ao presente, um mundo no qual há somente ideias eternas, um mundo que é mais real do que o presente.. 
  • Se Deus é o criador de tudo quanto existe e se Deus esta presente e atuante em toda a criação, não é possível pensar que ele esteve completamente ausente de partes inteiras da historia da humanidade, de continentes inteiros, até que a fé cristã chegasse a ele. 
  • A cultura greco-romana, ao dar amplos sinais da presença de Deus, dava igualmente amplos sinais da presença do pecado. Assim, aquela mesma cultura que falou em tons tão sublimes da sabedoria e da justica não considerava nada extraordinário nem condenável que expusessem os recém-nascidos indesejados para morrer na intempérie, presas de feras ou vitimas dos elementos. 
  • Em suma repitamos, o pecado afectou toda a criação e isto inclui também as culturas. 
  • O que podemos, sim, fazer é estar conscientes do fato inevitável de que nossa cultura impacta o modo como entendemos e vivemos  fé. 
  • O que devemos fazer é olhar nossa cultura á luz do evangelho para tentar descobrir nela aqueles elementos nos quais verdadeiramente podemos dizer que o Verbo tem atuado e nos certificar de que eles fazem parte de nossa compreensão não apenas do Evangelho, mas da realidade toda. 
  • Os cristãos, efectivamente, não se distinguem dos demais homens nem por sua terra, nem por sua fala, nem por seus costumes. Porque não habitam cidades exclusivamente suas, nem falam uma língua estranha, nem falam um estilo de vida a parte dos demais. Mas, habitando cidades gregas ou barbaras, segundo a sorte que coube a a cada um, e adaptando-se na vestimenta, alimentação e demais aspectos da vida aos usos e costumes de cada país, dão mostras de um teor particular de conduta, admirável e por confissão de todos surpreendente. Habitam sua próprias pátrias, mas como forasteiros, participam de tudo como cidadãos e suportam tudo como estrangeiros, toda terra é para eles pátria, e e toda pátria, terra estranha. (Discurso a Diogneto). 
  • O culto cristão é também uma antecipação da nova ordem que esperamos: a do reino de Deus. 

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