terça-feira, 29 de março de 2011

UMA ORTODOXIA GENEROSA - Brian McLaren (Notas de Leitura)

Provocador e perigoso. É impossivel ler este livro de forma indiferente. Brian é um dos expoentes do movimento de igreja emergente e por isso ja era de se esperar algumas posturas polemicas. O movimento da igreja emergente é combatido por muitos conservadores e a principal acusação é a de tentar diluir o evangelho, colocando em xeque alguns fundamentos da fé crista. 
Não é esta a minha opinião. Acredito que a igreja emergente nada mais é do que um movimento natural da igreja que sempre se reforma. A igreja não é algo estático, nas escrituras ela é tratada como um corpo que se desenvolve, cresce e amadurece. O erro dos conservadores é querer fazer da igreja um museu - um lugar de culto ao passado. A  emergência da igreja faz parte do seu processo natural de amadurecimento, algo que deve acontecer independente da vontade dos críticos. 
Neste aspecto parabenizo o autor pela forma provocadora com que tratou o assunto. A igreja precisa ser provocada, afinal a provocação é um instrumento para despertar a igreja do seu sono e da sua letargia.
No entanto, entendo também que esta obra acaba sendo muito perigosa. Por que perigosa? Compartilho a ideia que a duvida é necessária como forma de pensar teologicamente, mas também vejo nas escrituras algumas questões que me dão certezas, convicções. Posso questionar sim, mas ha certas questões que cabe a mim crer, acreditar e confessar com absoluta convicção. O aspecto inquietante do livro é exactamente a premissa que estamos construindo uma caminhada e nesta caminhada não ha convicções, afinal estamos aprendendo. Realmente, estamos caminhando e construindo a caminhada, e é exactamente por isso que precisamos de referenciais, algo que nos aponta o caminho e a maneira de caminhar no caminho. Se não temos referenciais seguros, então estamos perdidos.
No livro Confissões de um pastor da reformissão, Marc Driscoll fala do seu encontro com Brian McLaren. Depois de um tempo juntos em que estiveram discutindo algumas questões da emergência da igreja, Driscoll chegou a conclusão de que Brian é um pacifista. Confesso que também cheguei a esta conclusão. Brian quer ser um pouquinho de cada coisa - missional, evangélico, liberal, conservador, místico, bíblico, carismático, calvinista, católico e etc. No final a pergunta que se faz é - mas o que ele é mesmo? Nesta coisa de beber em varias fontes Brian acaba perdendo a identidade e ai entendo porque no penúltimo capitulo ele trata da sua angustia (Cap 18 - Por que estou deprimido). 
Não me considero conservador, na verdade tenho horror a esta palavra. Também não quero ser tratado como um liberal. Busco um meio termo. Brian termina sua obra falando desta busca, da necessidade de um equilíbrio. Mas ai confesso minha inquietação. Brian aconselha que preguemos o evangelho de forma que o Hindu seja um seguidor de Cristo sem deixar sua religião, que o mulçumano seja um seguidor de Cristo sem deixar sua religião. Afinal, onde esta o equilíbrio? Isto para mim é liberalismo extremado, uma vez que esta claro aqui a posição universalista de Brian. 
No mais, devo dizer que este livro me ajudou bastante a reflectir. Aconselho a leitura desta obra (com muito cuidado!). 
Com vocês minhas notas de leitura. 
  • A ultima coisa de que necessitamos é de um novo grupo de reformadores orgulhosos, superprotestantes, hiperpuritanos, ultra-restauracionistas que digam, “só nós estamos certos!” e como resultado disso, condenar todos os outros ao cesto de lixo de cinco minutos atras e ao balde da mediocridade abaixo da media. 
  • Enquanto isso, tenho percebido que minha mais profunda paixão não é pelo povo da igreja: sempre foi por aqueles que estão fora dela. Quero dar a essas pessoas as boas vindas, ajuda-las a se tornarem parte de nossa vida e missão. 
  • ...onde a igreja fecha as portas ao Espirito Santo, ele encontra uma janela destrancada por onde entrar secretamente.
  • ...a igreja é uma continuação e uma extensão do grupo original de discípulos, um grupo de pessoas aprendendo os caminhos de Jesus como uma comunidade voluntária. 
  • Por que sou cristão? Porque creio que Jesus é Salvador do mundo, Senhor e Filho de Deus.
  • Seu reino, então, é um reino não de controle opressivo, mas de liberdade sonhada, não de domínio coercitivo, mas de amor libertador, não de dominação de alto a baixo, mas de serviço de baixo para cima, não de punho de ferro cerrado, mas de mãos feridas e abertas, estendidas em um abraço de boas vindas, bondade, ternura, perdão e graça. 
  • Quantos de nós temos usado a cruz a maneira de Cesar, para dominar e não a maneira de Jesus, para Libertar? 
  • Confessar Jesus como Senhor significa aderir a sua revolução de amor e viver desse modo revolucionário. 
  • Esse é o tipo de aprendizado que se forma interiormente e que Jesus, como mestre, ensina a seus aprendizes, um conhecimento sobre como viver que não pode ser reduzido a informação, palavras, regras, livros ou instruções, mas que deve ser observado em palavras e no exemplo do Mestre. 
  • Na biblia salvar significa “resgatar” ou “curar” . Enfaticamente não significa salvar di inferno ou dar vida eterna após a morte, como muitos pregadores parecem comunicar indirectamente sermão após sermão. 
  • ...dizer que DEus salva significa que ele intervém para resgatar. Deus, compassiva e miraculosamente interfere, se envolve, intervém e protege seu povo de seus inimigos e deles mesmos. 
  • Jesus precisa ser salvo dos cristãos que o emagreceram ou o engordaram ou que o converteram a nossa própria imagem. 
  • Teologia é a igreja em missão reflectindo sobre sua mensagem, sua identidade, seu significado. 
  • Discipulo - ser e fazer discípulos de Jesus Cristo em uma comunidade autentica para o bem do mundo”
  • O judaísmo se tornou exclusivo baseado em genética e o cristianismo se tornou exclusivo baseado em crença. 
  • O evangelho traz benção a todos, adeptos e não adeptos igualmente. 
  • Entretanto estou mais interessado em um evangelho que seja universalmente eficaz para toda a terra antes da morte na historia. 
  • Depois de protestar contra os excessos do catolicismo, os protestantes começaram a protestar uns contra os outros. 
  • Protestantes tem dado mais atenção a Biblia que qualquer outro grupo, mas infelizmente, muito do seu estudo bíblico foi empregado para alimentar seus esforços de provar que estavam certos e os outros errados. 
  • ...que a biblia se torne novamente aquilo que ela é, não uma enciclopédia de consulta acerca das verdades morais eternas, mas a narrativa dinâmica de Deus em ação em um mundo violento e pecaminoso, chamando as pessoas, começando com Abraão, para um novo modo de vida. 
  • Para mim, os fundamentos da fé se resumem aqueles dados por Jesus: amar a Deus e amarmos o próximo.
  • ....o caminho para se conhecer quem Deus é ....o de embarcar na aventura da fé, da esperança e do amor, mesmo se voce não sabe onde o seu caminho o levara. 
  • O calvinismo conforme praticado hoje tem menos a ver com Joao Calvino. 
  • Acho difícil imaginar a adoração a um Deus amoroso e determinista, operador de maquina. 
  • Ser escolhido significa ser “abençoado para ser uma benção”, ser curado para curar, ser escolhido para servir, ser enriquecido para enriquecer, ser ensinado para ensinar. Essa reforma na compreensão reformada da eleição seria verdadeiramente revolucionaria e penso eu libertadora. 
  • Teologia sistemáticas ou conhecimento bíblico simplesmente não produziram transformação pessoal. 
  • ...o baptismo em si é um tipo de ordenação ao ministério e que o proposito do discipulado é treinar e dispor apóstolos cotidianos. 
  • Cremos na igreja, o credo diz, e essa não é uma declaração fácil de engolir, porque estamos cercados de denominações, divisões, discussões, grandes polemicas e disputas triviais. É onde entra a parte cremos: voce só pode conhecer a unidade da igreja crendo nela e não necessariamente enxergando-a. 
  • Talvez quanto mais crermos e percebermos essa unidade, mais fácil será deixar para trás a desunião. 
  • Chamar a igreja crista de santa é dizer algo sobre o seu proposito e não sobre o seu comportamento em determinado momento. 
  • Os apóstolos foram aqueles chamados para aprender (como discípulos), a fim de serem enviados para uma missão. A partir dessa perspectiva, discípulos são apóstolos em treinamento, o discipulado cristão significa treinar para o apostolado, treinar para uma missão. 
  • Uma ortodoxia generosa é assim. Ela reconhece que somos todos uma bagunça. Ela ve em nossos piores fracassos a possibilidade do mais profundo arrependimento e a abertura de Deus para a nossa mais profunda cura. 
  • Jesus não quis criar um grupo fechado que baniria outros para fora de seu circulo, Jesus quis criar um grupo de boas vindas, que buscasse e recebesse a todos. Um grupo que não viesse para conquistar, nem para atormentar, nem para subjugar, nem para erradicar outros grupos, mas para salva-los, redimi-los, respeita-los, ama-los, ampara-los e abraça-los. 
  • ...francamente, também não é mesmo fácil ser um seguidor de Jesus em muitos contextos religiosos cristãos. 
  • Nunca aceite ou se contente com suposições não analisadas, suposições sobre o trabalho, sobre as pessoas, sobre a igreja ou sobre o cristianismo. Nunca tenha medo de fazer perguntas sobre o trabalho que herdamos ou o trabalho que estamos fazendo. Não ha nenhuma pergunta que não deva ser feita ou que seja proscrita. No dia em que encontrarmos o sistema de trabalho perfeito e imutável, a resposta perfeita, e não tivermos mais necessidade de sermos corrigidos de novo, nesse dia saberemos que estamos errados, que cometemos o maior de todos os enganos. 
  • Estou cada vez mais convencido de que Jesus não veio meramente começar outra religião ou competir no mercado religioso. Creio que ele veio extinguir o padrão de competitividade religiosa (que Paulo chamou de Lei) ao cumpri-lo, creio que ele veio para inaugurar algo alem da religião - uma nova possibilidade, um campo, um domínio, um território do espirito que saúda a todos, mas exige de todos que reflictam e se tornem como crianças. Ele não é, como muitas religiões, um lugar de medo e de exclusão, mas um lugar  para alem do medo e da exclusão. É um lugar no qual todos podem encontrar um lar e abraçar a Deus. 
  • Nós enxergamos Deus não como um potentado tentando manter servos sob controle, na condição de eterna infância, mas como um pai nos convidando a crescer e a amadurecer, a nos tornarmos bons, belos e verdadeiros como podemos nos tornar - emergir. 
  • ...a ortodoxia não é um destino. É um caminho - um caminho no qual alguém viaja e progride, mesmo se nunca for chegar (nesta vida). Fp 3.12-13
  • Estar nesta creatio continua, nessa criação constante e emergente, diante de toda essa beleza e gloria significa que não pode haver nenhuma ultima palavra. 
  • Ser um cristão de um modo generosamente ortodoxo não é afirmar que se tem a verdade capturada, apinhada e moldada na parede. É mais estar em uma comunidade amorosa de pessoas que estão buscando a verdade (doutrina) no caminho da missão e que se lançaram na busca por Jesus que connosco ainda nos guia. 
  • Talvez a ortodoxia venha a significar não apenas conclusões correctas, mas processos correctos para se continuar chegando a novas e melhores conclusões.
  • No dia em que estivermos completamente satisfeitos com o que temos feito, no dia em que encontrarmos o sistema de trabalho perfeito e imutável, a resposta perfeita e não a tivermos mais necessidade de sermos corrigidos de novo, nesse dia saberemos que estamos errados, que cometemos o maior de todos os enganos. 
  • No mundo de cima, o inferno certa vez se rebelou contra o céu. Neste mundo, no entanto, o céu esta se rebelando contra o inferno, pois o ortodoxo sempre pode ser uma revolução, posto que a revolução é uma restauração. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Conto com a sua participação