sexta-feira, 2 de setembro de 2011

MEMÓRIAS DE UM PASTOR - Eugene Peterson (NOTAS DE LEITURA)

Em outras oportunidades já pude dizer que Eugene Peterson é  um dos meus escritores prediletos. Peterson é um pastor que conversa com pastores, não é a toa que ele seja conhecido como “pastor de pastores”, isto fica muito evidente no capitulo em que ele trata da companhia de pastores. 
Em “Memórias de um Pastor” Peterson mergulha fundo na formação da sua vocação pastoral e a medida em que ele expõe sua trajetória, eu mesmo fui levado a fazer uma retrospectiva da minha própria historia. Cheguei a conclusão de que não decidi ser pastor, na verdade fui formado pastor. Isto faz parte da minha historia, é isto que eu sou e sempre serei – Um Pastor. 
Confesso a vocês que terminei a leitura desta excelente obra renovado na paixão. Vejo muitos pastores cansados, frustrados e ate alguns que estão pensando em desistir da caminhada pastoral. Oro por estes queridos pastores, sei que realmente não é fácil exercer uma vocação pastoral, afinal nosso trabalho nas palavras de Peterson “é solitário. Precisamos um do outro”. Sei de colegas que olham para a vocação pastoral e o que veem são sepulturas e é neste momento que as palavras de Barth soam como trovão – “Somente onde há sepulturas, há ressureição”. 
“Memórias de um pastor” me fez muito bem e com certeza abençoará muito a sua vida. 
Com vocês as notas de leitura – 
  • A Igreja é composta de pessoas que ao entrarem no templo, deixam para trás o rotulo ou designação pela qual as pessoas da rua as conhecem. Uma igreja não pode jamais ser reduzida a um lugar onde se transacionam bens e serviços. Jamais deve ser um lugar onde as pessoas são rotuladas. Não pode ser um local de fofoca. Antes de qualquer outra coisa, a igreja é um lugar onde as pessoas tem nome e são saudadas, implícita ou explicitamente, no nome de Jesus. É um lugar que da dignidade as pessoas. 
  • Para mim, minha igreja é uma obra em processo, um romance em que todos e tudo estão conectados a historia da salvação em que Jesus tem a palavra final. 
  • De vez em quando, porem, um raio da beleza mais luminosa parece se materializar vindo não se sabe de onde e ilumina as pessoas ao nosso lado. Vejo então o que os meus olhos embotados pelo pecado não eram capazes de ver: vidas plasmadas pela palavra de Deus, geradas pelo Espirito Santo, de uma humildade disposta ao sacrifício, de uma virtude heroica, que erguem a Deus um louvor santo, sofrendo sem perder o contentamento, orando sem cessar. Perseverando na obediência – shekinah. Outras vezes, porem, não vejo nada disso. 
  • Igrejas não são franquias que devem ser reproduzidas o mais fielmente possível , seja onde for, e quando for, em Roma, Moscou, Londres ou Baltimore, cuja única alteração é a tradução do menu. 
  • Todavia, se não adquirimos uma logica narrativa, uma percepção de historia na expectativa de que somos, cada um de nós, pessoas únicas – participantes de um lugar, de um tempo e clima únicos e específicos de onde vivemos e adoramos – vamos sempre procurar em outro lugar ou num século diferente um modelo que nos permita ser uma igreja autentica e bíblica. 
  • Nem todo mundo sabe quer fazer parte dessa historia se o seu papel não for o da estrela (ou do astro) principal.
  • Deus nos deu o milagre da igreja com o mesmo sinal que nos deu o milagre de Jesus: pela descida da pomba. O espirito Santo desceu sobre o ventre de Maria na aldeia de Nazaré. Passados trinta e poucos anos, o Espirito santo desceu sobre o ventre coletivo de homens e mulheres, entre elas o de Maria que se haviam tornado seguidores de Jesus. A primeira concepção nos deu Jesus, a segunda, a igreja. 
  • A igreja é um conjunto de pessoas que se definem pelo fato de serem criadas a imagem de Deus, são almas vivas, quer saibam disso quer não. Elas nãos são problemas em busca de solução, e sim mistérios, a serem honrados e reverenciados. Quem mais na comunidade, senão o pastor tem a obrigação de acolher homens e mulheres e de recebe-los bem na igreja em que são conhecidos não pelo que ha de errados com eles e sim pelo que são, assim como são?
  • Uma resolução começou a tomar forma dentro de mim, não iria mais esperar que me pedissem. Nesses tempos de secularismo em que vivo, Deus não é levado a serio. Ele é periférico. Deus é “legal”, mas ele não esta no centro. Quando as pessoas procuram ajuda para os pais, os filhos ou para as suas emoções, elas não costumam achar que estejam precisando de Deus. No entanto, se eu quiser ser fiel a minha vocação de pastor, não posso permitir que o mercado decida o que devo fazer. Sempre haverá um meio de orar com as pessoas e por elas, e também um meio de ensinar as pessoas a orar, geralmente de modo discreto e , não raro, subversivo, sobretudo quando puder faze-lo sem que elas percebam o que estou fazendo, mas não vou esperar que peçam. Sou Pastor!
  • Nossa vocação nos torna invisíveis. 
  • Eu tinha ainda muito que aprender sobre a vocação de pastor, mas de uma coisa tinha certeza: a oração era o centro de tudo. 
  • Um dia de adoração é seguido de seis de trabalho. É nesses dias de trabalho que tanto a identidade do pastor quanto da congregação se vê envolvida pela nevoa do secularismo. 
  • Pastores, façam isso, anunciem a salvação no santuário uma vez por semana. Orem com as pessoas e por elas todos os dias da semana.
  • Pastores, Façam isso. Escutem todos os dias o que as pessoas tem a dizer, ajudem essas pessoas a entenderem que as historias que elas nos contam estão sendo entretecidas na grande história contada no Sinai. 
  • Pastores façam isso. Não expliquem o sofrimento, não prometam que tudo vai logo melhorar. Não culpem as pessoas por seu sofrimento. Enfrente-o com elas. Seja sei companheiro, paciente no sofrimento. 
  • Pastores, não façam o que as pessoas querem ou pedem de vocês. Dizer não é tão importante quanto dizer sim. 
  • Pastores, lembrem-se de que vocês estão trabalhando como uma comunidade formada em Deus. 
  • O mundo de êxodo era cheio de historia de igrejas. Moises salvo do rio quando criança, seus longos anos de formação como pastor de ovelhas em MIdiã, os anos em que ele não soube que era um pastor em formação, a voz que falou com ele da sarça ardente, as dez pragas, a libertação no mar vermelho, os trovoes e relâmpagos no Sinais, as Dez palavras. 
  • Não podemos transformar Deus num objeto: Deus não é algo a que damos um nome. Não podemos transforma-lo em uma ideia, ele não é um conceito a ser discutido. Não podemos usar Deus para criar ou fazer algo. Deus não é um poder, que possa ser controlado. 
  • Ninguém amadurece na vida crista sentando-se em uma sala de aula, numa biblioteca, ouvindo palestras e lendo livros, tampouco indo a igreja, cantando hinos e ouvindo sermões. Crescemos quando pegamos as coisas de cotidiano, nossos pais e filhos, cônjuges e amigos, nosso local de trabalho e nossos colegas de trabalho, nossos sonhos e fantasias, as coisas a que somos apegados, que nos proporcionam fácil gratificação,  a despersonalização a que nos submetemos nossos relacionamentos íntimos, a retificação das verdades da vida e sua transformação em idolatrias: crescemos quando pegamos tudo isso e colocamos no altar do fogo purificador  - nosso Deus é um fogo consumidor – que a tudo redime santificando nossa vida. Uma vida que não esta reservada somente a freiras e monges, que pode ser vivida por qualquer um, em qualquer igreja. 
  • Não podemos ter Deus do nosso jeito, domesticado conforme nossas necessidades, reduzido as ideias que temos de como ele deveria agir. A oração nos faz mergulhar na forma em que Deus esta presente conosco quer entendamos quer não, quer gostemos quer não. 
  • As crianças são nossa primeira defesa contra o efeito anestésico e achatador das palavras que fazem desconexão entre Deus e a vida. 
  • A linguagem verdadeira diz respeito a comunhão, a criação de um relacionamento que perdure por toda a vida: amor, fé e esperança, perdão salvação e justiça. A verdadeira linguagem requer língua e ouvido. 
  • Minha formação de pastor vem de toda a minha vida. 
  • O primeiro passo é só o começo, é o que vem depois que se transforma em historia, nesse caso, a formação vocacional. 
  • A coisa mais importante no céu e na terra...é a necessidade de uma longa obediência na mesma direção, disso resulta, e sempre resultou a longo prazo, algo que que torna a via digna de ser vivida. 
  • Na confusão do trabalho e de pecado, das famílias e dos bairros, minha tarefa consistia em orar, dar direção e estimular aquela qualidade vivida do evangelho – pacientemente, localmente e pessoalmente. Pacientemente: eu ficaria junto dessa gente, não ha um jeito fácil e rápido de faze-lo . Localmente eu abraçaria as condições desse lugar – sua economia, cultura, escolas, o que fosse – de modo que não houvesse nada concebido de forma abstrata ou piedosa em relação ao que eu estava fazendo. Pessoalmente – eu conheceria cada um, saberia seus nomes, conheceria suas casas, sua família, seu trabalho, mas não me intrometeria, não os trataria com dignidade. Pregar é claro, é parte do que faço, ensinar também, bem como administrar a igreja como comunidade de fé. Todavia, o contexto mais amplo a minha missão especifica no que diz respeito a vocação pastoral tanto quanto me permite minha capacidade, consiste em fazer que os homens e as mulheres da minha igreja se conscientizem das possibilidades e da promessa de vivenciar em nível pessoal e local as implicações de seguir a Jesus e acompanha-los nessa caminhada. 
  • Mas a questão, de fato é que se ate Nietzsche viu a necessidade de uma obediência por toda a vida, muito mais nós devemos investir na longa obediência da maratona que é seguir a Deus.
  • Uma das coisas que me dá mais prazer em ser pastor é essa imersão nas ambiguidades, de não estar no controle, o que permite o surgimento de insights e de decisões que evoluem para confissões de fé e para o carinho não planejado, espontâneo, de uns para com os outros e que, com o passar dos anos, tornou-se uma cultura de hospitalidade. 
  • Não sei quanto a parte do incompreensível, mas o fato é que os pastores são de fato invisíveis seis dias por semana. O único momento em que as pessoas da igreja nos veem em ação é quando dirigimos o culto aos domingos. Existem algumas outras ocasiões em que realizamos nosso trabalho em publico : funerais, casamentos, cerimonias de formatura. Contudo quando visitamos os enfermos, só o doente e sua família ficam sabendo. Quando oramos, só Deus sabe. 
  • Quero ser um pastor que ora. Quero ser um pastor que lê e estuda. Quero ser um pastor que tenha tempo para conviver sossegadamente com vocês. Quero ser um pastor que conduza vocês na adoração, um pastor que as coloque diante de Deus em obediência receptiva, um pastor que pregue sermões que tornem a Escritura acessível, presente e viva....
  • Vivo de milagres. Não poderia viver um dia sequer sem eles. 
  • O pastor é a única pessoa da comunidade que tem condições de levar a serio homens e mulheres pelo que são, de valoriza-los como são , de lhes dar uma dignidade que deriva do fato de serem Imagem de Deus, de serem pessoas criadas por Deus e que tem valor eterno sem que para isso tenham de provar que são uteis ou bons um alguma coisa. 
  • Boa parte do trabalho pastoral acontece quando não sabemos que estamos exercendo nossa vocação. 
  • Somente onde há sepulturas há ressurreição. Karl Barth
  • Você desempenha melhor a vocação de pastor quando não é notado. Para manter sadia essa vocação é preciso negar-se a si mesmo o tempo todo, é preciso sair do caminho. Certo anonimato abençoado é inerente ao trabalho pastoral. O pastor, quando é notado, começa rapidamente a querer ser notado. Muitos anos atrás, um amigo pastor me disse que o ego espiritual traz consigo o mau cheiro da doença, o cheiro implacável do ego. Nunca me esqueci disso.

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